por Jocimara De Pieri (Instagram @recriar_pedagogico)
No post anterior (Leitura na escola e a revolução digital) você viu a importância da leitura na formação das pessoas. Agora vou falar dos livros didáticos.
Os livros didáticos não conseguem fugir a uma regra imposta ao longo dos tempos na história do ensino em nosso país. Que regra é essa? É aquela que tenta disseminar uma ideologia dominante. A ditadura militar, em duas décadas de domínio, usou o livro didático para tal fim. Todo governo tem um projeto ideológico. Mas alguns se esforçam mais para disseminar a falta de democracia.
Tal esforço pode chegar às raias da dominação (como foi na ditadura militar brasileira). O espírito crítico impede que aceitemos ideologias autoritárias. Quanto mais autoritário um governo, menos ele permite o surgimento de leitores críticos. A matemática aí é simples.
Leitor crítico
Quando acontece de termos leitores críticos, o ato de ler, então, passa a ser evolutivo: social e culturalmente. E, claro, divertido. Já nesse contexto do leitor não-crítico, ler se transforma em algo enfadonho, mecânico. Porque não estimula todos os sentidos, não debate, não insere a leitura na realidade e nem discute outras realidades. Não diverte.
E, dessa forma, fica distante de uma categoria que una o ato de ler ao prazer, que permita a leitura como fonte de lazer. A fraca experiência com a leitura afasta o leitor do contexto social e cultural. Faz com que desconheça o que de mais profundo o ser humano pensou e escreveu sobre si. Desse modo, aliena-se das informações e, consequentemente, não participa ativa e efetivamente da sociedade em que está inserido.
Saindo da bolha
Por esta perspectiva, percebe-se a necessidade da formação de leitores, para que a sociedade saia de suas bolhas e enxergue outras visões de mundo. Além disso, formar leitores é criar participação no contexto social. Mas não só isso: a interpretação de um texto depende de sua visão de mundo, de seus valores, de seus conhecimentos, de sua reflexão e visão crítica.
Enfim, a leitura deve ser usada como instrumento do conhecimento. Assim é possível sair da bolha. Mas na pressa de estar em sintonia com as inovações, a escola desconsidera o processo formador de aprendizagem. Assim, limita-se a investir na circulação de imagens e deixando de observar a qualidade dos textos que oferece a seus alunos como fonte de leitura.
Por causa disso, a prioridade passa a ser a substituição do conhecimento por informação. A escola se descompassa e não forma leitores críticos, reflexivos, capazes de provocar mudanças no contexto social onde estão inseridos. Preparam mal o cidadão do futuro.
Percebem agora a importância de um livro didático democrático?
Livros didáticos, fatos, interpretação e a liberdade de ser crítico
O melhor que um governo faz é não atrapalhar. É deixar que os profissionais de educação criem um conteúdo que possa ser crítico de sua própria história. Mas algo que também valorize nossas conquistas culturais diversas. E que não privilegie nenhum grupo social ou religioso.
Parece difícil, né? Imagine que num futuro próximo a gente não deva ter, em hipótese alguma, um livro didático que descreva a covid-19 como uma gripezinha. Porque isso seria distorcer um fato. Há coisas que não necessitam interpretação.
A leitura faz com que passemos a olhar por janelas nunca antes vistas, assim possibilitando uma melhor visão do todo. Assim, compreendemos a nós, nosso redor e o mundo.
(Veja agora o próximo post sobre esse mesmo assunto: A importância da escola na formação de leitores)
Jocimara De Pieri tem 10 anos de experiência na rede pública como professora em educação infantil e ensino fundamental I. Atua como psicopedagoga desde 2017 e é CEO da Recriar Acompanhamento Escolar & Orientação Pedagógica.