Leitura, literatura e crianças

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por Jocimara De Pieri (Instagram @recriar_pedagogico)

A escola – espaço que convencionamos como sendo específico e privilegiado do saber – precisa rever suas práticas de construção de leitores. As leituras são impostas em sala de aula e, por isso, temos dois tipos de escolas: aquelas que assimilam o novo sem a devida reflexão. Utilizam inadequadamente instrumentos modernos de ensino, e, assim, tornam seus alunos leitores passivos.

E o segundo tipo? Bom, há outras escolas que utilizam textos fragmentados de manuais didáticos como único meio auxiliar para leitura. Com qual objetivo?Trabalhar o que foi desenvolvido na sala de aula, apenas como mera fixação de conteúdos, quase sempre aleatórias à realidade do aluno.

Leitura como fonte de formação e lazer

Esta má prática educativa torna os alunos alheios ao que vivem, tornando-os vulneráveis a qualquer manipulação, de qualquer setor da sociedade. Ler, reler, duvidar, pesquisar, refletir, discutir e reler. Esses verbos deveriam ser prática constante da nossa sociedade. Isso evitaria, por exemplo, a doença das fakenews.

A leitura como prática social faz a diferença. Portanto, é necessário que as escolas revejam as condições restritas impostas ao ensino da leitura. Mas, tem outra questão aí. Mudar as condições de produção da leitura na escola não significa apenas alterar os instrumentos de sua codificação e decodificação. Vai muito mais além.

O que se espera de uma escola

O subtítulo aí acima não é mesmo uma pergunta. O que se espera, ou, se exige, de uma escola, é o redimensionamento de todo o trabalho educativo. Como assim? Falo de algo que engloba ousadia, seleção de materiais variados, espaço para a socialização, respeito a todas as opiniões divergentes (deixar bem claro o que é opinião). Enfim, são novas propostas de trabalho pedagógico com leituras críticas e variadas.

A leitura dá informação e, consequentemente, é fonte de acesso ao conhecimento e aos mecanismos do poder. Para se chegar a isso, o caminho pode ser tortuoso ou cheio de coisas interessantes. O prazer (e o senso de que aquilo significa algo) levará automaticamente o leitor ao conhecimento.

Mais literatura

Pois é. Mais literatura. Vejam só: a leitura singular dos livros didáticos deveria ceder espaço aos livros de literatura infantojuvenil, jornais, revistas, gibis, bulas de remédios, receitas caseiras etc. Porque tudo isso faz parte dos objetos de uso cotidiano. Então, articula-se uma leitura significativa e compreensiva, que será mais agradável no processo pedagógico.

Há muito a se discutir, refletir e pesquisar para que se consiga concretizar, de maneira efetiva, tudo isso nas salas de aula.

Mas trata-se de um primeiro passo e de um grande desafio: romper barreiras para melhor ensinar. E o plano para criar o bom hábito de ler tem esse objetivo: uma educação que permita ao aluno o exercício pleno de sua cidadania e o seu desenvolvimento como ser humano. Portanto, não se deve pensar apenas na leitura como fonte de conhecimento técnico. Não, por favor, não.

A literatura e a criança

Uma das formas de recreação mais importantes para a criança – no que se refere ao seu desenvolvimento e crescimento intelectual, psicológico, afetivo e espiritual – é a leitura. A literatura infantojuvenil, como meio de comunicação e modalidade da leitura, também é um dos mais eficientes mecanismos de recreação e lazer, servindo como um método prático de terapia educacional.

A literatura desempenha papel fundamental na vida da criança, não apenas pelo seu conteúdo recreativo que desempenha, mas também pela riqueza de motivações, sugestões e de recursos que oferece ao seu desenvolvimento.

Em seu descobrimento da vida, a criança está no auge para entender a realidade circundante. Nessa curiosidade e deslumbramento deverá encontrar estímulos sadios e enriquecedores que serão a tônica de sua motivação e crescimento como pessoa humana.

Portanto, deve-se estimular e propiciar para as crianças os livros infantis, contos de fadas, poesias, os mitos, folclore, fábulas, teatro, tudo, permitindo que penetrem no universo mágico dos seus sonhos.

O que eu penso

O desafio do novo educador, daquele adequado ao mundo contemporâneo, está justamente em fazer frente às ideologias dominantes e autoritárias. Porque elas insistem em práticas educativas descomprometidas com o objetivo máximo da educação, cujo interesse maior é – deveria ser – o aluno.

Assim, devemos ter compromisso com o passado, o presente e, já que falamos de crianças, com o futuro também. É necessário trazer o público para o lado da educação, para uma realidade que inclui a família, o professor, a criança, o país. O próprio Estado deveria implementar ações voltadas para a formação do futuro cidadão crítico, que entende, definitivamente, que vacina previne doenças, por exemplo.

A batalha a ser travada é longa e difícil. Então, para que ocorra a mudança dessas práticas de leitura ultrapassadas é preciso compreender que o ato de ler deve estar dentro de um contexto e signifique algo para quem está lendo. Ler não é decifrar códigos.

Há uma enorme distância entre o discurso teórico dos professores e as práticas de leitura nas escolas. Esta situação é provocada por um conjunto de fatores que já discuti em outros textos meus no blog da Recriar. Um desses fatores: a escola não percebe que a leitura é atividade que ultrapassa qualquer projeto escolar.

Concluo, então, que o grande desafio é este: criar rupturas com o ensino tradicional. E, além disso, entender que tecnologia não é um ismo (como Construtivismo), mas instrumento para se chegar a um resultado. Independentemente do instrumento usado, a filosofia é desenvolver uma prática de ensino de leitura crítica.

Romper o ensino tradicional de leitura ajuda a formar cidadãos que vão questionar os discursos impostores de classes dominantes. Estes leitores críticos ainda usarão a linguagem para expressar suas insatisfações e reivindicar seus direitos. E, finalmente, graças ao hábito da leitura crítica, os jovens e futuros cidadãos poderão entender o significado de democracia e solidariedade. Então, vamos começar logo essa mudança!

Jocimara De Pieri tem 10 anos de experiência na rede pública como professora em educação infantil e ensino fundamental I. Atua como psicopedagoga desde 2017 e é CEO da Recriar Acompanhamento Escolar & Orientação Pedagógica.

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