Dificuldades da Aprendizagem

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por Jocimara De Pieri (Instagram: @recriar_pedagogico)

Quando você ouve alguém falar de filhos com dificuldades de aprendizagem, imediatamente você acha que a pessoa tem um filho deficiente? E se essa pessoa tiver, você acha que o filho dela nunca vai aprender?

Existem alguns preconceitos aí. Vamos tentar resolver alguns aqui. Primeiro, toda dificuldade é chamada assim também porque pressupõe um obstáculo que pode, sim, ser superado. Sem medos, com orientação correta, com paciência e determinação. Deficiência é outra coisa, que também requer cuidados especiais. Mas tenha em mente: todos podem aprender. Acompanhe meu raciocínio até o fim.

E o que é, então, aprendizagem?

A aprendizagem é um processo de mudança de comportamento obtido através da experiência construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais. Aprender é o resultado da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente.

A aprendizagem vem sendo estudada cientificamente desde o século XX, embora tenha tomado maior espaço e relevância no meio acadêmico entre as décadas de 1950 e 1970. Diversos conceitos foram apresentados como uma tentativa de melhor explicar a aprendizagem e como se dá o seu processo.

E qual a obsessão em saber como se aprende? Ora, para tornar o aprendizado mais eficiente e acessível a todos. Tá, eu sei, o discurso parece um pouco ingênuo, mas entender como se aprende é melhor para todos os setores da sociedade.

Muitos conceitos, uma certeza: o lado afetivo conta muito

Apesar de existir diferentes conceitos, todos concordam que a aprendizagem implica numa relação bilateral, tanto da pessoa que ensina como da que aprende. Dessa forma, a aprendizagem é melhor definida como um processo evolutivo e constante, que envolve um conjunto de modificações no comportamento do indivíduo, tanto a nível físico como biológico, e do ambiente no qual está inserido, onde todo esse processo emergirá sob a forma de novos comportamentos.

Há o aspecto fisiológico referente ao aprender, como os processos neurais ocorridos no sistema nervoso. E há as funções psicodinâmicas do indivíduo, que necessitam apresentar um certo equilíbrio, sob a forma de controle e integridade emocional para que ocorra a aprendizagem. Isso significa, na prática, que uma criança angustiada, porque os pais brigam todo dia, aprende menos do que poderia, já que suas emoções estão atrapalhando por uma razão alheia à vontade dela. Tudo ao redor da criança se relaciona com a capacidade dela de aprender mais, ou menos, melhor, ou pior.

Piaget: aprendizagem e afetividade

De acordo com Piaget a vida afetiva e cognitiva são inseparáveis, embora distintas. E são inseparáveis porque todo intercâmbio com o meio pressupõe ao mesmo tempo estruturação e valorização. Assim é que não se poderia raciocinar, inclusive em matemática, sem vivenciar certos sentimentos, e que, por outro lado, não existem afeições sem um mínimo de compreensão.

Piaget define aprendizagem, dizendo que: todo esquema de assimilação tende a alimentar-se, isto é, a incorporar elementos que lhe são exteriores e compatíveis com a sua natureza. Também diz que: todo esquema de assimilação é obrigado a se acomodar aos elementos que assimila, isto é, a se modificar em função de suas particularidades, mas, sem com isso, perder sua continuidade (portanto, seu fechamento enquanto ciclo de processos interdependentes), nem seus poderes anteriores de assimilação.

Parece complicado, mas é apenas uma explicação maior para o que eu disse antes sobre vida afetiva e cognitiva: não dá pra separar.

Memória, atenção: seu filho é atento?

Esse texto é mais acadêmico do que um post comum sobre aprendizagem. Mas faço questão de mostrar de maneira mais profunda meu posicionamento sobre o assunto, já que administro uma empresa que visa trabalhar aprendizagem com crianças e adolescentes (e idosos). E você já deve saber qual é, falo da Recriar.

Bom, explicado isso, deixe-me continuar. Vigotski chegou a falar de memória. Ele dizia que as funções psicológicas superiores como memória, atenção, abstração, aquisição de instrumentos, fala e pensamento, terão condições de se desenvolver mediante a aquisição de conhecimentos transmitidos historicamente, os quais, necessariamente, para serem apropriados pela criança, precisam da mediação dos indivíduos. Ou seja, o desenvolvimento das funções psicológicas superiores se dá na interação social e por intermédio do uso de signos.

Todas as funções no desenvolvimento cultural da criança aparecem duas vezes ou em dois planos. Aparecem entre pessoas como uma categoria intermental (interpsicológica), e depois no interior da criança como uma categoria intramental (intrapsicológica). Isso é igualmente para a atenção voluntária, para a memória lógica e para a formação de conceitos. Descobrir como desenvolver melhor a atenção de seu filho ou descobrir onde estão as dificuldades dele para mantê-la, também é papel nosso, como psicopedagogos.

Aprendizagem passando pelo corpo

Alicia Fernandez afirma que, desde o principio até o fim, a aprendizagem passa pelo corpo. Uma aprendizagem nova vai interagir a aprendizagem anterior. Ainda quando aprendemos as equações de segundo grau temos o corpo presente no tipo de numeração. E isso não se inclui somente como ato, mas também como prazer, porque o prazer está no corpo, sua ressonância não pode deixar de ser corporal, porque sem signo corporal de prazer, este desaparece.

Aprender, segundo Vitor da Fonseca, envolve três unidades funcionais do cérebro em perfeita interação. Mas se essa dinâmica neurofuncional não for harmoniosa, o individuo pode experimentar as tais dificuldades de aprendizagem. Agora só imagine. Com as dificuldades, vêm as cobranças da escola, dos pais, da própria criança ou adolescente sobre aprender logo determinada matéria, ou tirar melhor nota. A confiança cai, o estudante acha que não consegue e larga de mão. O quadro só piora.

Interdisciplinaridade

Mas se a dificuldade for identificada e a solução apontada, surge a luz que vai guiar o aprendizado do estudante. Esse é nosso trabalho.

Resolver um problema, uma dificuldade, exige uma abordagem interdisciplinar. Porque para aprender põem-se em jogo quatro níveis: orgânico, corporal, intelectual e simbólico (inconsciente). Portanto, dependendo do nível do problema,o sujeito de aprendizagem vai precisar da intervenção de diferentes especialistas (como pediatra, neurologista, otorrinolaringologista, fonoaudiólogo, assistente social etc.). Essas diferentes opiniões são necessárias para articular um diagnóstico psicopedagógico como acredita, por exemplo, Alicia Fernandez.

Portanto, cada ser humano é único e portador de experiências pessoais únicas. Isto, por sua vez, torna a aprendizagem um processo único e diferenciado para cada individuo.

Dificuldades da Aprendizagem: os transtornos

Os transtornos de aprendizagem se definem como a dificuldade em alcançar metas educacionais básicas em crianças com inteligência normal e sem lesões neurológicas que justifiquem. E, normalmente, só são detectados quando a criança está em contato com a educação formal. Em torno de 15% a 20% das crianças apresentam dificuldades de aprendizado no primeiro ano de escolaridade, chegando até 30% a 50% nos primeiros seis anos, com prevalência do sexo masculino.

Ao analisar o diagnóstico da criança é preciso ter em mente a tríade formada pela criança, sua família e a escola, além de considerar também se há a existência de patologias orgânicas e psicológicas na origem do quadro.

Quando se considera a dificuldade de aprendizado, não basta centralizar a atenção na criança. É preciso ter em mente que, para um bom resultado diagnóstico e terapêutico, é necessário abordar também o contexto escolar e familiar.

Dificuldades da Aprendizagem: para se alcançar soluções

Para que a criança tenha um bom desempenho escolar devem ser oferecidas condições básicas para o seu aprendizado: espaço físico adequado, corpo docente qualificado e motivado. Mas não só isso.

A família também deve oferecer condições adequadas ao sucesso da criança. A história de vícios, renda familiar insuficiente e a dificuldade de manter hábitos de higiene e alimentação são um problema importante. Além disso: pais separados ou em briga constante, ou a falta de horário e de rotinas adequadas para o sono e estudo. Dormir bem é fundamental.

Na avaliação que fazemos da criança levamos em conta também a pouca integração e comunicação com a escola. Já entre os problemas familiares, cabe comentar a falta de experiências, devido à estimulação fraca (fato que já pode ter comprometido seu desenvolvimento psicomotor). Outra conduta familiar – que é criticável – é a de insistir com a alfabetização precoce (imaturidade neurológica). Com relação à criança, é necessário distinguir problemas psicológicos (timidez, baixa autoestima e falta de motivação) e patologias orgânicas. As crianças também podem apresentar imaturidade funcional do sistema nervoso central (SNC) em relação a sua idade cronológica.

Veja que com tudo isso, soluções existem. É identificar a origem da dificuldade, trabalhar bastante e ter paciência. Confie nas profissionais de psicopedagogia. Converse com uma. Aprendizagem não é bicho de sete cabeças.

Quem é a autora

Jocimara De Pieri foi professora de educação infantil e fundamental I, é psicopedagoga, CEO da Recriar Acompanhamento Escolar & Orientação Pedagógica, formada em pedagogia, pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Possui diversos cursos de extensão em Educação Inclusiva, também tem formação de Brinquedista, além de outros cursos e atualizações.

Algumas fontes usadas

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FOUCAMBERT, J. A leitura em questão. Porto Alegre: Artes Medicas, 1994.

KLEIMAN, A. A concepção escolar de leitura. In: Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas, SP: Pontes, 2001.

PALANGANA, IsildaCampaner. Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vigotski: a relevância do social. São Paulo: Summus Editorial, 2015.

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SOARES, Magda. Letramento: Um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autentica,1998.

VASCONCELOS, Barbara. Literatura infantil: Visão histórica e crítica. São Paulo: Edart, 1982.

VYGOTSKY, Lev.A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2009.

ZILBERMAN, Regina (ORG.). Leitura em Crise na Escola. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.

ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 2003.


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